Taxa de desempregados deve chegar a 12% neste ano
MERCADO DE TRABALHO -SERT - POUPATEMPO SÉ - Carteira de Trabalho(Reinaldo Canato/VEJA)
Os dados sobre desemprego
divulgados na última semana revelam uma mudança do perfil do ajuste no mercado
de trabalho brasileiro, reflexo direto da recessão econômica. As estatísticas
apontam para o aumento no número de demissões em 2016, além do encolhimento
ainda maior na renda dos trabalhadores. Economistas ouvidos pela Agência Estado afirmam que este movimento se dará
principalmente porque o setor de serviços, que se manteve resiliente por muitos
meses, dá sinais mais evidentes de fraqueza. Por contratar grandes contingentes
de trabalhadores, a deterioração do emprego neste segmento será determinante
para o avanço da taxa de desocupação para a casa dos 12% ainda neste ano.
Na
passagem de janeiro para fevereiro, o desemprego avançou de 7,6% para 8,2% nas
seis principais regiões metropolitanas do país, segundo dados da Pesquisa
Mensal do Emprego (PME), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Segundo
Natalia Cotarelli, economista do banco ABC Brasil, a queda cada vez mais forte
na atividade econômica é a responsável pelo maior número de cortes de
empregados. Em fevereiro, a população ocupada caiu 3,6% na comparação com igual
mês de 2015, um tombo recorde. "Isso mostra que a recessão deve impactar o
emprego neste ano de forma muito mais negativa do que aconteceu no ano
passado", estima Natália.
Por trás
do aumento nas demissões, está a desaceleração mais intensa no setor de
serviços. Por ser intensivo em mão de obra, a deterioração deste segmento
acarretará no fechamento ainda maior de vagas nos próximos meses. O
economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, considera que esta é uma
mudança no perfil do ajuste que o mercado de trabalho atravessa, já que ao
longo de 2015, a alta na taxa de desocupação foi resultado, principalmente, da
maior quantidade de pessoas procurando emprego, expandido a População
Economicamente Ativa (PEA).
Para
Vieira, as demissões devem crescer nos próximos meses devido ao cenário de
forte incerteza ligado às indefinições dos rumos políticos do país. Rafael
Leão, economista-chefe da Parallaxis Consultoria, concorda e considera que o
ajuste no emprego seguirá "a pleno vapor" ao longo do primeiro
semestre e afetará a renda dos brasileiros ainda com mais força. "Em
fevereiro, todos os oito segmentos da atividade registraram queda na renda
média na comparação anual", destacou.
De acordo
com o IBGE, o rendimento médio dos trabalhadores recuou 1,5% na margem e
despencou 7,5% na comparação com fevereiro de 2015. Já a massa de rendimento
médio real habitual dos ocupados foi estimada em R$ 50,8 bilhões em fevereiro,
número 11,2% inferior ao do mesmo mês do ano passado. "Isso representa
cerca de R$ 7 bilhões a menos circulando nas seis capitais pesquisadas pela
PME", calcula o economista-chefe da Parallaxis. A pesquisa abrange as
regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro,
Salvador, São Paulo e Recife.
Natália, do banco ABC Brasil,
considera que o recuo na renda reforça a percepção de que a situação do
brasileiro é "bastante complicada", mesmo para aqueles que continuam
empregados. A especialista, pondera, no entanto, que a queda da renda tem sido
mais intensa nas metrópoles que no interior. Em contraste com a retração de
7,5% na comparação interanual revelada pela PME, a Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílio (Pnad) Contínua mostrou uma diminuição de 2,0% na renda média no
trimestre encerrado em dezembro de 2015, o último dado disponível, antes igual
período de 2014.
A partir
do próximo mês não será mais possível comparar a situação do mercado de
trabalho das metrópoles com a do país como um todo. As informações de fevereiro
foram as últimas divulgadas da PME, que passa a ser substituída pela Pnad
Contínua, que conta com informações de 3,5 mil cidades do país. O desemprego
medido por este levantamento ficou em 9,0% no quarto trimestre de 2015. Rafael
Leão, da Parallaxis, estima que a taxa deve atingir o pico de 12,0% em novembro
deste ano e se estabilizar em um nível elevado no segundo trimestre do ano que
vem.
(Com Estadão Conteúdo)
Postar um comentário
Blog do Paixão